Afinal, Jesus voltará? Quando? De que modo se dará a sua volta?
Este assunto não será uma mera questão da simbologia bíblica em que os protestantes acreditam, os católicos admitem e a grande parte dos espíritas não aceita?
Os protestantes e os evangélicos, conforme as especificidades de crença de suas muitas agremiações religiosas, vêem no retorno de Jesus um momento de renovação, de arrebatamento literal dos eleitos, daqueles que cumpriram fielmente os preceitos da religião professada. Que seja. É realmente bela e edificante a fé destes estimados irmãos e irmãs que vivem as suas vidas vinculando-as aos nobres ideais das suas crenças.
Já os católicos têm na corajosa postura do papa João Paulo II, o foco das suas atenções para o tema em questão. Em 29 de novembro de 1998, na sua bula denominada Incarnationis Mysterium, ele declarou: "...é preciso permanecer à escuta dEle para reconhecer os sinais dos novos tempos e fazer
que a expectativa do regresso do Senhor glorioso se torne cada vez mais ardente no coração dos fiéis."
O que devemos todos questionar é que motivo levou João Paulo II a referir-se ao assunto, pois nada há no horizonte da percepção humana que obrigasse a uma estrutura tão pesada como a do Vaticano a se expor diante de um assunto tão complexo, onde a exegese bíblica não ousa pontuar grandes conclusões. Ou será que já existem sinais perceptíveis no nosso horizonte quanto ao cumprimento da promessa do Cristo de aqui retornar quando os tempos fossem chegados?
Mais estranho ainda é o fato do monsenhor Corrado Balducci, teólogo do Vaticano e íntimo do Papa, afirmar em rede nacional de televisão, em pelo menos cinco oportunidades entre o final de 1999 e início do ano 2000, que os contatos com seres extraterrestres compõem um fenômeno real e têm acontecido regularmente. Anunciou que o Vaticano está recebendo continuamente muitas informações sobre alienígenas e seus contatos com humanos, vindas de seus núncios apostólicos em vários países, notadamente o México, o Chile e a Venezuela. Supondo que nada disso tivesse o mínimo
fundamento, como um prelado apostólico romano, autorizado pelo Papa, iria referir-se a assunto desse porte se não fosse obedecendo a alguma estratégia?
Quanto aos espíritas, a opinião comum de alguns dos seus principais vultos, diretores e dirigentes de centros, observam que, em nenhuma hipótese Jesus retornaria à Terra pela simples questão de que o surgimento do Espiritismo, no século XIX, já seria o cumprimento de sua promessa de aqui retornar. Outros preferem a omissão, aguardando os fatos em aparente atitude de prudência.
Esquecem-se os primeiros que existem duas promessas distintas feitas por Jesus: a de que enviaria o Consolador e a de que depois retornaria. O porquê da cômoda disposição doutrinária em juntar dois eventos tão distintos em um só é um mistério que somente o futuro talvez venha a esclarecer.
Preocupante é escutar que assim afirmam porque Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita, é quem teria feito tal afirmação, o que não encontra respaldo na verdade.
Erro de interpretação? Orgulho intelectual exacerbado por conta de opiniões já mantidas nesse sentido? Desconhecimento do que Kardec realmente deixou registrado?
Dizem alguns que essa questão fere a pureza doutrinária do espiritismo porque envolve o fator extraterrestre, o que também, segundo os mesmos, jamais foi abordado por Allan Kardec. Novamente o
equívoco cuja base intelectual de apoio não encontra respaldo na obra e nem da vida do codificador.
Realmente chega a ser doloroso o que o ser humano termina fazendo consigo mesmo em nome do que julga conhecer, dando por sabido aquilo que ainda precisa ser descoberto ou percebido.
Para os que acham que a questão extraterrestre fere a chamada pureza doutrinária, ou coisa do gênero, afirmando que em centro espírita kardecista comunicação de supostos ETs não entra, seria aconselhável recordar o que certo personagem disse em seu discurso de despedida, ao lado do túmulo do amigo recém-desencarnado, com quem costumava conversar.
"Que importa que joguem sobre este gênero de estudos o sarcasmo ou o anátema aqueles, cuja vista é turvada pelo orgulho ou por preconceitos, que os impedem de compreender os ansiosos desejos do nosso pensamento ávido de conhecer; mais alto elevaremos as nossas contemplações!"
"Tu foste o primeiro, mestre e amigo! Foste o primeiro que, desde os meus primeiros passos na carreira astronômica, testemunhaste a mais viva simpatia por minhas deduções relativas à existência das humanidades celestes; pois que, do meu livro Pluralidade dos Mundos Habitados, fizeste a pedra angular
do edifício doutrinário, que tinhas arquitetado em tua mente. Muitas vezes conversamos sobre essa vida celeste tão misteriosa e agora, oh! Alma, já sabes, por uma visão direta, em que consiste ela - a vida espiritual, para a qual voltaremos, embora dela nos esqueçamos enquanto aqui estamos."
Esta é uma pequena parte do discurso pronunciado por Camille Flammarion no túmulo do seu amigo e mestre Allan Kardec.
O primeiro diz claramente que muitas vezes conversou com Kardec sobre a "vida celeste" - leia-se extraterrestre: na época este termo não era utilizado -, idéia central do tema da Pluralidade dos Mundos Habitados, onde o notável astrônomo Camille Flammarion ressalta ter Kardec utilizado este assunto como sendo a "pedra angular do edifício doutrinário" por ele formulado. O que quis Flammarion dizer com isto? Observem que este fez uma distinção entre vida celeste e vida espiritual.
Como podem os atuais espíritas afirmarem que a questão extraterrestre fere a pureza doutrinária se o próprio Allan Kardec costumava conversar sobre este assunto com seus amigos? E se, conforme o testemunho histórico de um desses amigos, o codificador teria utilizado este tema como pedra angular do edifício doutrinário por ele arquitetado? Como explicar que uma das preocupações centrais do codificador transformou-se, cerca de um século depois, em questão considerada herética pelos padrões da doutrina que ele criou?
E quanto aos que afirmam que a obra de Kardec nada tem a ver com a questão extraterrena? Observemos as seguintes passagens do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
No seu capítulo IV, Pluralidade das Existências, na pergunta 172 é questionado aos espíritos se "Nossas diferentes existências corporais se passam todas sobre a Terra?", ao que eles responderam: "Não, não todas, mas nos diferentes mundos; a que passamos neste globo não é a primeira, nem a última e é uma das mais materiais e das mais distanciadas da perfeição."
Ou seja, ficava claro que a existência corporal que estávamos tendo na Terra não era nem a primeira nem a última, donde se depreende que, ou todos ou alguns dos que vivem na Terra, já "viveram" ou, em outras palavras, tiveram existências corporais em outros mundos e que ainda iriam viver em outros planetas em um tempo futuro, depois que morressem para o mundo terrestre.
Se dúvida houvesse, a resposta dada na pergunta 173 "...já vivestes em outros mundos e sobre a Terra", ajudaria a dissipá-las.
De forma inequívoca, servindo para encerrar de vez qualquer questionamento sobre o fato dos espíritos estarem afirmando, claramente, que existia vida corpórea, encarnada, em mundos que não o terrestre, e por conseguinte, extraterrestres, na pergunta 181, Kardec quis saber se "Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?",ao que os espíritos responderam que "É fora de dúvida que têm corpos, porque o Espírito precisa estar revestido de matéria para atuar sobre a matéria.
Esse envoltório, porém, é mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que assinala a diferença entre os mundos que temos que percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso Pai,..."
Ainda procurando saber algo, nem que levemente exposto sobre a questão do possível relacionamento entre as diferentes humanidades, o codificador esboçou a pergunta 182: "Podemos conhecer com exatidão o estado físico e moral dos diferentes mundos?", tendo os espíritos aclarado que "Nós, os Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais; quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estariam em condições de compreendê-las, e isso os perturbaria". Ficava assim claro que, de acordo com os conhecimentos terrenos da época, não poderia ser dito muito mais naquela época.
Como podem os atuais espíritas afirmarem que o codificador não tratou da questão extraterrestre?
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